O Sisão é uma ave estepária tímida, aproximadamente do tamanho do pato-real, embora não tenha qualquer relação entre si.
A sua área de distribuição é marcadamente fragmentada, encontrando-se apenas nas grandes pradarias e estepes da Ásia Central e do Sul da Europa. Algumas das populações mais importantes encontram-se na Península Ibérica, onde está a sofrer um declínio acentuado e rápido nos seus efetivos.
A recém publicada Lista Vermelha das Aves de Portugal (2022)1 desclassificou o estatuto de conservação da espécie para criticamente em perigo (CR) em Portugal. Esta situação preocupante também se reflete no seu estatuto global, com a espécie a sofrer declínios na maior parte da sua área de distribuição. As populações globalmente importantes do Alentejo português estão a afundar-se, tendo sofrido um declínio acentuado de 77% em apenas 16 anos2. As alterações de habitat devidas à intensificação da agricultura têm sido o principal fator desta diminuição sem precedentes, notavelmente o aumento do número de vacas em detrimento das ovelhas.
O Sisão é uma ave nidificante extremamente escassa no Algarve, onde, nos últimos 20 anos, apenas se sabe que nidificou em duas pequenas áreas, na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, no limite oriental do Algarve, e aqui, no limite ocidental no concelho de Vila do Bispo. Durante os trabalhos de campo de Atlas das Nidificantes de Portugal 1999-2005, a população do Sisão no concelho de Vila do Bispo foi estimada entre 8 e 10 casais. Na primavera de 2023 só foram detetados 3 machos no concelho. Este ano não se conhece registos na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António.
A situação atual da população do Sisão no concelho da Vila do Bispo é gravíssima. Em trabalhos de campo recentes e em curso durante 2024 foi relevada a presença de um mínimo de 4 Sisão machos no concelho, com uma quinta ave a juntar-se-lhes no final do verão. Não foram ainda detetadas fêmeas (tal como em 2023); o número desproporcionalmente baixo de fêmeas em relação aos machos é mais um agravante nas suas áreas nucleares do Alentejo. No entanto, como as fêmeas são extremamente tímidas temos uma ainda uma pequena esperança de que possa haver uma ou duas fêmeas e que a reprodução possa ser bem sucedida. Estas aves estão a ser monitorizadas de perto e continuarão a sê-lo ao longo do projeto.
Apesar das baixas expectativas, este projeto pretende esclarecer a precária situação que se encontra esta espécie muito especial no concelho e recomendar as medidas que possam ser tomadas para eventualmente, evitar a sua extinção na área.
Referências bibliográficas
1 Almeida J, Godinho C, Leitão D, Lopes RJ (2022) Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental. SPEA, ICNF, LabOR/UÉ, CIBIO/BIOPOLIS, Portugal
2 Silva, J.P., Marques, A.T., Carrapato, C. et al. A nationwide collapse of a priority grassland bird related to livestock conversion and intensification. Sci Rep 13, 10005 (2023). https://doi.org/10.1038/s41598-023-36751-8